O Argonauta

8.7.04

NO DOMINGO NÃO CHOREI

No domingo não chorei. Isso podia ter acontecido, como a milhares de pessoas, algumas delas vi-as na TV - no estádio, na Expo, no Rossio, no Porto, em Coimbra, em Évora, no Brasil, em França ou em Timor. Nunca chorei com uma derrota do meu clube ou da selecção. Mais facilmente me emociono com uma vitória épica, com uma imagem particular, ou com a força do hino cantado por milhares de pessoas, em uníssono.
No domingo não chorei, porque vi a maneira como perdemos. Não foi uma injustiça terrível e cruel, como o penalty no prolongamento contra a França em 2000 (que ainda por cima era golo-de-ouro - quem marcasse, ganhava).
Esta derrota foi parecida com a de 1996, contra a República Checa (o golo de Poborsky). A uma grande (e desmedida, a meu ver) euforia inicial seguiu-se a resignação da impotência, perante um adversário teoricamente inferior, mas que foi mais eficaz durante os 90 minutos.
No domingo, a selecção parece ter deixado a alma no balneário, as pernas e as fintas no jogo anterior, os golos na almofada da cama do Pauleta, do Nuno Gomes e do Ronaldo.
No início da 2ª parte, eu já dizia «isto está bom é para a Grécia», que nos conseguira adormecer e enredar numa teia fatal. A estratégia da aranha, o veneno da cobra, o cinismo, a hiper-defesa de betão, chamem-lhe o que quiserem, mas eles jogaram melhor. Foram mais eficazes e é isso que conta.
Muito poucas selecções na história aliaram a vitória com o espectáculo. O Brasil de 70 é o melhor exemplo desse que é o ideal futebolístico, mas outras grandes equipas fracassaram, como a Holanda dos anos 70, o Brasil em 82, ou outras mais recentes.
Apesar de tudo, para Portugal, ser vice-campeão europeu não devia ser mau. Foi por isso, também, e por ver como (não) jogámos, que no domingo não chorei.