O Argonauta

23.1.04

PERDIDO NA TRADUÇÃO

Lost in translation / O amor é um lugar estranho estreou ontem nos cinemas. É apenas o segundo filme de Sofia Coppola, filha de Francis Ford. Tinha visto - e gostado de - The Virgin suicides, o seu primeiro filme. Os ecos vindos do estrangeiro prometiam novo filme de culto. A banda sonora, já a rodar cá por casa, abria o apetite. Fui ver... e também me junto ao culto...

a forma como tudo é perfeito neste filme é profundamente tocante.
as imagens e as situações fundem-se com a música como se fossem uma só entidade (é, seguramente, uma das melhores bandas sonoras dos últimos 10 anos).
scarlett/charlotte e bill/bob formam o par romântico-não-romântico mais convincente dos últimos tempos - duas almas rodeadas de gente, mas solitárias, em busca de si mesmas e que acabam por se descobrir.
quando tudo - à partida - os podia separar, muito mais coisas os unia.
a angústia, a incerteza, a fragilidade dos tempos modernos e das relações sociais (e amorosas), em todo o seu esplendor.
a essência de Tóquio e da cultura japonesa captada na perfeição.
a cena final, em que bob procura - e encontra - charlotte no meio da multidão, a abraça, a beija e lhe segreda algo ao ouvido é um suplemento de alma, que nos apazigua. e em fundo, esse hino que ganha novas nuances: just like honey (dos jesus and the mary chain).

se o mundo fosse justo, toda a gente deveria ver este filme. e sonhar...

(versão 'retocada', em público, aqui)