O Argonauta

30.1.04

NÃO ME DEIXES RIR!

E agora, para algo «completely different», como diriam os meus queridos Monty Python, deixo um post mais longo: fui ontem ver a peça «Deixa-me rir!», ao Teatro Villarett, por confiar (muito) no talento de José Pedro Gomes e António Feio para me (nos) fazer rir, há já muitos anos.
Só posso dizer que saí de lá bastante desiludido, aborrecido mesmo, por constatar que estamos perante um semi-logro, a que as pessoas que gostam de humor inteligente se devem poupar. Apesar de achar que o argumento tem bastantes boas ideias - as relações profundamente corruptas entre políticos, assessores, jornalistas e os media em geral - a sua concretização deixa muito a desejar. Sendo uma peça inglesa, algumas coisas não encaixam bem na realidade portuguesa, mas siga. Confesso que na esmagadora maioria das pseudo-piadas que foram debitadas pelos actores, eu não esbocei nem um sorriso. Mas tudo bem, eu não ia para lá à espera de «morrer a rir».
O (enorme) talento de José Pedro Gomes como actor continua intacto. António Machado está brilhante no discurso final, a imitar Durão Barroso. Os outros (Virgílio Castelo, Margarida Marinho, Rita Lello, Jorge Mourato e Pedro Laginha) não se destacam por nenhuma espécie de subtileza ou graça. Mas o que me incomodou mais foi ver que muita da gente que esgotava o teatro ria a bandeiras despregadas com piadas (ou apontamentos) que, de tão más, fariam rir os próprios Monty Python. Apesar dos alertas sistemáticos emitidos pelos media, o fenómeno «stand-up comedy»/«Levanta-te e ri» que invade as TVs e alguns teatros portugueses tinha-me passado ao lado, de tão pobrezinho que me pareceu em alguns visionamentos ocasionais. Descontando episódios fortuitos, como a histérica que estava na fila atrás de mim que tentava a todo o custo mostrar aos amigos que se estava a divertir imeeeenso!, parece-me que estamos perante um fenómeno de falta de exigência, poderia mesmo dizer, falta de sentido de humor genuíno, mordaz e caótico. Eu sei que os tempos não estão para grandes comédias, mas precisamente por isso pensei que as pessoas estivessem mais exigentes com aquilo que as faz rir...
Por isso, só tenho um conselho: malta, vão lá rever os filmes e séries dos Monty Python, do Fawlty Towers, do Black Adder, do Herman José pré-1990, do Seinfeld e outras séries americanas e britânicas que nos deixaram saudades. Não queiram é que me ria com as vossas piadas sem graça!