O Argonauta

24.9.04

A MÃE QUE NUNCA O FOI

Em directo, na SIC-NOTÍCIAS, assisto àquele que é, para já, o culminar da tragédia humana que tem preocupado o país, nos últimos dias. Durante horas, junto ao Tribunal de Portimão, centenas de populares jogaram às escondidas com um batalhão da polícia e um carro celular que teimava em não chegar. Lá dentro, presumivelmente, viriam os dois suspeitos de um crime que, a confirmar-se, configura aquilo que os códigos chamam de homicídio qualificado, com a agravante de ser cometido sobre uma indefesa criança de 8 anos, sua filha e sobrinha.
Junto à aldeia de Figueira, onde residiam suspeitos e presumível vítima, equipas de busca jogam às escondidas, de olhos fechados, com as contraditórias indicações que conseguiram arrancar aos suspeitos. Anseiam por encontrar um corpo que, no seu íntimo, desejariam não ter de encontrar.
Só essa descoberta permitirá confirmar que estamos perante a face do horror, um horror incompreensível.
Este crime fez-me recordar 2 outros ocorridos, em tempos distintos: o de há semanas em Beslan e o da Praia do Futuro, no Brasil. Ambos (também) incompreensíveis, mas aos quais faltava esta dimensão macabra e desestruturante, que é a de ser um crime cometido (presumivelmente) por uma mãe (tenho dificuldades em usar esta palavra, neste caso).
Ao vermos a sua estranha e fria reacção ao desaparecimento e as desculpas que foram sendo forjadas, compreendemos que aquela filha, se de facto morreu, não morreu naquele dia. Já tinha morrido, para aquela mãe, há muito tempo. Quiçá quando nasceu...
E compreendemos que aquela mãe, sejam quais forem os seus motivos ou impulsos, também nunca chegou a estar viva. Porque só a morte consegue negar a força da vida. E quebrá-la de forma tão violenta, na flor da idade.
ACTUALIZAÇÃO (minutos depois): A RTP confirma que os dois suspeitos já terão confessado o crime...

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